Fortalecendo

29 de junho de 2010

Antes que se vá


Meu pai. Meu velho pai. Tão bruto em suas atitudes muitas vezes, tão rude e grosseiro, mas um homem honesto. Maneiras estranhas de mostrar o seu amor. Palavras ásperas, mas uma pessoa comunicativa, engraçada. Perde o amigo , mas não a piada.
 Ele não sabe que é amado assim, eu imagino. Deve saber que é, mas não o quanto é. Nem daria mesmo para dimensionar, porque é tanto, que nem eu saberia descrever. Pensar que ele está já bem velho e adoentado me assusta. Ele sempre foi tão previdente com tudo, levando tudo calculado "na ponta do lápis", como sempre disse. Pensar que um dia (provavelmente não tão distante) ele não mais estará li, sentado a mesa fazendo sua contabilidade, é inaceitável. É surreal para mim pensar em não tê-lo num futuro talvez próximo. 
Doloroso demais pensar que aquele vovô rabugento não mais estará para esperar o neto nos fins de tarde. Não mais estará para opinar sobre o almoço, nem para preparar a terra para a horta. Quem limpará o canil? Quem fará o barulho típico ao amanhecer que não deixa ninguém mais dormir?
Essas pequenas coisinhas do dia a dia são o que farão mais falta, é o que com certeza deverá doer mais, lembrar que tantas vezes o odiamos por estar fazendo aquilo e agora daríamos tudo para que ele estivesse ali a fazer tudo novamente. E não está.
Que vontade de abraçá-lo eu tenho, mas não o faço. Nem sei por que não o abraço. Parece tão fácil. Na teoria seria só aproximar meu corpo do dele e o envolver com meus braços. Sentindo o calor do seu peito. Mas a prática é diferente porque o simples fato de o envolver com meus braços, vai me fazer ligar minhas glândulas lacrimais e não sei como contê-las uma vez que as comportas se abrem. 
Tenho certeza que ele também iria se deixar levar pela emoção, e talvez seja por isso mesmo é que eu não faça nada, apenas o ame assim, de longe, às vezes um beijinho no seu rosto de barba já muito grisalha, um afago em suas cãs sempre muito bem penteadas.  
Meu velho pai... já está indo, devagar, sei que já notou isso também e por isso é que tens andado com estes olhos tristes, a pensar mil coisas. Esquematizando tudo o que precisa fazer antes de ir, para não dar nenhum trabalho à sua velha. Quanto tempo até que este velho coração fosse lapidado, aos poucos, para se tornar um pouco menos frio em certos aspectos. Para que repensasse certas atitudes, certas opiniões. Certas conviccções.
Meu pai, tantas vezes eu desejei coisas horríveis que nem ouso citar aqui. Me arrependi de todas elas. E hoje, com tua partida iminente, me vejo novamente como uma criancinha, indefesa, insegura, que tudo que mais deseja é o colo quentinho de seu pai.

(A.Galliset)

2 comentários:

Diogo disse...

Oi Paula! Se quiser pode publicar aqui no seu blog trechos de textos meus sim, até porque sei que você irá citar a fonte. Aliás, gostei muito do seu espaço. Está reformulando? Adorei este post sobre o pai. Bj grande

Paula disse...

Oii, Diogo!! Obrigada pela visita, fico feliz que tenha gostado do espaço. Estou dando um up sim, pouca coisa a princípio. Espero que gostem do resultado final. Bjs, volte sempre.